A obesidade configura-se hoje como uma problemática social, podendo ainda ser entendida como uma expressão das mudanças ocorridas no mundo, exigindo das pessoas maior rapidez e flexibilidade inclusive nos horários e nos modos de se alimentar, das apelações exacerbadas ao consumo que leva os indivíduos a comerem e não necessariamente a se alimentarem devidamente.
A indústria alimentícia se aproveita desta ofensiva que instaura, não apenas pelo modo de vida, mas pela maneira de consumir e de alimentar em consonância com os interesses do mundo industrializado (DOMINGOS et al., 2005).
A comida está sendo percebida como uma forma de obter status social. O alimento em nossa sociedade é uma mercadoria, e como tal, é explorada pela mídia. A sociedade de consumo revela a estratégia da sedução.
Esta lógica torna-se cada vez mais fortalecida, à medida que as tecnologias e o mercado colocam à disposição do público uma diversificação, cada vez mais vasta, de bens e de serviços (FELIPPE, 2004). Os fast-foods tornaram-se uma alternativa de refeição rápida, porém na maior parte das vezes carecendo de aporte nutritivo. Em busca de solucionar o problema do tempo, passou a satisfazer as exigências do paladar. De modismo passou a ser a opção para um número crescente de consumidores.
Os adolescentes, jovens e adultos estão mais sensíveis e permeáveis às mudanças e, portanto, mais vulneráveis à propaganda, sem a preocupação com os danos que isso poderá acarretar a sua saúde e qualidade vida. Como consequência há um crescente aumento de pessoas com sobrepeso ou obesidade.
De acordo com Lowen (1979, p. 19): “A pessoa experimenta a realidade do mundo somente por meio do seu corpo. O meio ambiente lhe provoca impressões porque se manifesta sobre seu corpo e afeta seus sentidos”.
Desta forma, o ato de comer, além de ser instrumento para “matar a fome”, pode conter significados das mais diversas ordens, funcionando, por exemplo, como alívio de ansiedade, de irritabilidade, como sedativo, motivo de celebração e euforia ou até mesmo, como veículo na busca de aceitação social.
Sob um viés semelhante, Coulon (1995) retrata que as pessoas constroem seu mundo social por meio dos sentidos que atribuem as suas experiências, objetos e situações em geral. E parece que o mundo do sujeito obeso está sendo cimentado sob o preconceito, a discriminação e o isolamento. Tudo isto revelando um contexto sociocultural de forma que os padrões em voga se referem ao corpo perfeito, bonito, “malhado”, fisicamente bem delineado.
Problemas psicológicos, sociais e comportamentais podem ocorrer em indivíduos obesos. Muitas vezes, eles sofrem discriminação e estigmatização social, prejudicando seu funcionamento físico e psíquico, podendo causar um impacto negativo em sua qualidade de vida (KHAODHIAR; McCOWEN e BLACKBURN, 1999 apud DOMINGOS, et al.,2005).
O aspecto psicológico não está relacionado unicamente ao impulso à ingestão de comida. Com efeito, a representação social da obesidade é responsável por estigmatizar o obeso como alguém feio e relaxado. Essa imagem desencadeia sentimentos de solidão, insatisfação e reclusão, caracterizando-se como novas formas de não inclusão.
Os sentimentos negativos impulsionam o agravamento de problemas emocionais, fazendo aumentar a ansiedade que leva os indivíduos a ingerir ainda mais alimentos, reforçando, assim, o ciclo vicioso da obesidade (DOMINGOS et al., 2005).
No dizer de Martins (1998, p. 18): “A exclusão é apenas um momento da percepção que cada um e todos podem ter daquilo que corretamente se traduz em privação”.
Diante disso, ressaltamos as privações vivenciadas cotidianamente pelos obesos, seja no mercado de trabalho onde os portadores de obesidade têm dificuldades de inserção devido aos padrões estéticos, seja na participação no mercado de consumo, que propõe majoritariamente roupas e objetos fabricados de acordo com os padrões vigentes, que priorizam a estética do magro, esbelto, oferecendo tamanhos pequenos e/ou inadequados a pessoas que não correspondem a este padrão.
A privação do bem-estar também é muito comum, tendo em vista que em geral, o estigma da obesidade favorece uma compreensão do fenômeno como “algo não estético”, fora dos padrões de beleza, de responsabilidade individual e não como uma doença. Para Martins (1998), a privação hoje é mais do que privação econômica, nela se incluem também todas as formas de preconceito e discriminação.
Ao longo da vida, o excesso de peso traz outras dificuldades, como menor índice de emprego, timidez e problemas de relacionamento afetivo. Devido a tais dificuldades, muitas vezes os indivíduos obesos sofrem ou impõem-se restrições diante de atividades rotineiras como ir à escola, comprar roupas, namorar e divertir-se (DAMIANI; CARVALHO e OLIVEIRA, 2002).
As discriminações são formas de exercício de poder para excluir pessoas do acesso a certos benefícios ou vantagens ou do próprio convívio social que ocorrem por meio da rotulação ou etiquetagem de estereótipos socialmente fabricados.
Esses rótulos perpassam as relações cotidianas de dominação produzindo a identificação social das pessoas (FALEIROS, 1995). Segundo Felippe (2003) o nosso cotidiano se constituiu de valores e crenças, nesse momento social que favorecem a obesidade. Social por se tratar da relação entre as pessoas, por envolver estigmas, discriminação, preconceitos e a rede de relações do indivíduo em relação ao mundo e aos outros.
As pessoas obesas são vistas de forma mais negativa do que pessoas não obesas nos aspectos de inteligência e sucesso e, portanto, socialmente evitadas ou até mesmo rejeitadas para certas funções de trabalho (MILLER; ROTHBLUM; BRAND; BARBOUR e FELÍCIO, 1990).
A obesidade e consequentemente a discriminação atinge também as crianças. Na sociedade contemporânea atividades lúdicas estão sendo substituídas pelo videogame, computador e pela programação da TV que na maioria das vezes transmite programas que induzem à imitação e ao consumo e que acabam por definir um padrão estético.
As crianças obesas são frequentemente importunadas pelos colegas e menos aceitas do que as crianças com peso normal. Bracco et al.,(2002), afirmam que a criança obesa está sob forte estresse emocional promovido por uma sociedade que cultua o corpo perfeito.
Essa criança sente-se desestimulada a realizar qualquer tipo de atividade física em que tenha que expor seu corpo que, quase sempre, é motivo de zombaria de outras crianças e até, de adultos que atribuem a obesidade a uma falta de vontade desta criança em comer menos e ser menos sedentária. A essa situação somam-se discriminação social, afastamento das atividades em grupo, isolamento, dificuldades em expressar sentimentos, baixa autoestima e problemas escolares.
ATIVIDADE PROPOSTA
Proposta de Redação
A partir da leitura dos Textos Motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Entre a saúde e o preconceito o problema da obesidade e do
sobrepeso no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.
ATIVIDADE AVALIATIVA
https://projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/obesidade-problema-de-saude-ou-problema-social