Em quase todas as culturas tradicionais, os ritos de passagem assinalam o fim da infância e o início da idade adulta. Mas nem todos esses ritos são indolores e isentos de perigo como os nossos bailes das debutantes, a primeira comunhão dos católicos ou o bar mitzva dos judeus. Existem aqueles que se lançam literalmente no vazio amarrados a um cipó nos tornozelos, e quem se deixa picar nas mãos por dezenas de formigas tropicais.
Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Esses ritos podem ter caráter social, comunitário ou religioso, e marcam momentos importantes na vida dos indivíduos. Os mais comuns são os ligados a nascimentos, mortes, casamentos e formaturas. Em nossa sociedade, os ritos ligados a nascimentos, mortes e casamentos são praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas não costumam ser, em si, religiosas, mas frequentemente têm importantes momentos religiosos. O termo “rito de passagem” foi popularizado pelo antropólogo alemão Arnold van Gennep no início do século vinte.
Rito de iniciação de faquir indiano
Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou ritos de passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto, tanto cunho individual quanto coletivo.
Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome , previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene. Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia.
Todos os anos os muçulmanos comemoram a festa do Ramadã, rito que assinala a passagem para um novo ciclo do tempo.
Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil, a garota estava apta a preparar-se para o casamento. Para os rapazes, a cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ambas ligadas, portanto, ao derramamento de sangue, tais ritos significavam a integração daquela pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã.
Na galeria abaixo apresentamos alguns ritos de passagem realmente incríveis – pelo menos para nos, ocidentais.
1 Picados pelas formigas. Ela é uma Paraponera clavata, que os indígenas da Amazônia chamam tocandira e os de língua inglesa bullet ant, ou formiga-projétil. É assim chamada porque a dor que provoca quando pica com suas potentes mandíbulas é comparável à de um tiro de revólver. Para entrar no mundo dos adultos, os adolescentes homens da tribo dos Sateré Mawé, que vivem na fronteira entre o Amazonas e o Pará, desafiam esse monstruoso inseto – uma das maiores formigas do mundo, chegando a 3 centímetros - enfiando as mãos no interior de um par de luvas (veja a foto) recheadas com dezenas de tocandiras. Os garotos têm que dançar com as mãos dentro da luva durante dez minutos. A dor pode durar até 24 horas e é tão intensa que o corpo sofre com convulsões. O mais inacreditável é que os homens da tribo repetem este ritual várias vezes durante a vida, para provar a sua masculinidade. E devem resistir sem gritar, sem chorar ou se lamentar durante pelo menos dez minutos!
Vídeo : National Geographic
2 Saltar no vazio. Para se tornar gente grande e demonstrar que não sentem medo, os adolescentes homens da tribo Sa, na Ilha de Pentecostes, no Arquipélago de Vanuatu, no Oceano Pacífico, devem se exibir no ritual do “naghol” (salto no vazio), um costume que inspirou o bungee jumping. Com os tornozelos atados a longos cipós, os garotos se atiram de torres de madeira com mais de 30 metros de altura. A prova é muito arriscada: se o cipó é demasiado curto eles podem bater contra as madeiras pontudas que sustentam a estrutura; se é demasiado longo batem no chão a uma velocidade superior a 50 quilômetros por hora. O ato é considerado uma prova de masculinidade para os rapazes, e o primeiro salto assinala a passagem deles à idade adulta. Este ritual serve como um rito de passagem e como um ritual de colheita dos habitantes de Vanuatu. Quando o “mergulho” é feito corretamente, o garoto deve encostar os ombros e a cabeça no chão. Entretanto, os cipós não são elásticos e um cálculo errado do comprimento da corda pode causar ferimentos sérios ou até mesmo a morte do garoto no ritual.
Vídeo: National Geographic
3 Veneno sagrado. A tribo indígena dos Matis, que vivem na floresta amazônica brasileira, realiza quatro testes com os garotos, para que eles mostrem que podem participar das caçadas com os outros homens. Primeiro, os garotos recebem veneno diretamente nos olhos, para supostamente melhorar a sua visão e aguçar os sentidos. Depois, eles são espancados e recebem chicotadas, para depois receber a inoculação do veneno de um sapo venenoso da região. A tribo acredita que o poderoso veneno do animal aumenta a força e a resistência, o que só acontece depois que o participante do ritual sofre com fortes enjoos, vômitos e diarreia. Quando os garotos passam por esta terrível sequência de testes, são considerados aptos a participar das caçadas da tribo. Foto: Paulo Whitaker
4 Iniciação para canibais. Os Aghori, uma seita indiana cujos membros se concentram na cidade santa de Varanasi (a antiga Benares), costumam comer carne humana em certos momentos do seu caminho em direção à iluminação espiritual. Sua principal fonte de abastecimento são as piras funerárias que, diariamente, queimam cadáveres nas margens do Rio Ganges. Segundo os Aghori, essa prática, ligada à purificação da alma, contribui para manter o corpo sadio e evita as doenças.
5 Sangue purificador. Para os Matausa, uma população do Arquipélago Papua Nova Guiné, o corpo da mulher não é puro e, de consequência, também os filhos que a mulher gera não são puros. Os jovens são purificados durante a adolescência (ou em alguns momentos importantes da vida, por exemplo pouco antes do casamento) com um ritual muito doloroso e violento: Eles inserem pela boca duas varetas e as fazem sair pelas narinas. O sangue e o muco que saem das feridas representam as impurezas que o menino recebeu da sua mãe, e que agora estão sendo expulsas.
6 O rito das debutantes. Pouca gente sabe disso, mas os tradicionais bailes de debutantes, quando as jovens moças são apresentadas à sociedade, são uma versão moderna de ritos iniciáticos muito antigos e comuns a várias culturas ao redor do mundo. Assinalam sempre o fim da infância e o início da idade adulta, como nesta foto em que debutantes inglesas chegam para o seu grande baile.
7 Circuncisão. Quando os meninos da tribo Xhosa, da África do Sul, chegam à adolescência, devem suportar a circuncisão feita a sangue frio, uma operação que, nos adultos, é particularmente dolorosa. Mas as penas dos jovens xhosa não são nada comparadas com as provas a que são submetidos os adolescentes de 14 a 16 anos, de ambos os sexos, da tribo Okiek, do Quênia. A iniciação começa com a circuncisão dos órgãos sexuais. Depois, os participantes ficam separados dos adultos do sexo oposto por um período de quatro a 24 semanas. Os jovens circuncisados têm que se pintar com argila branca e carvão, para ficarem com uma aparência selvagem, e na fase de isolamento recebem ensinamentos ministrados pelos anciãos da comunidade. Feita sem nenhuma anestesia ou cuidados higiênicos, essas circuncisões deixam os jovens propensos infecções. Ainda mais cruel, a circuncisão feminina consiste na remoção do clitóris, o que deixa a maioria delas incapaz de sentir prazer durante o sexo para o resto da vida. Caso as meninas se recusem a passar pelo rito são isoladas do resto da tribo.
8 A golpes de pedra. Também no noroeste da Austrália, a cultura da tribo dos Unambal considera que os rapazes, para se tornarem homens, devam passar pela circuncisão quando aparecem os primeiros sinais de pelos na face. Mas o método usado é terrivelmente primitivo: o órgão masculino é comprimido sobre uma rocha e o prepúcio é cortado a golpes, com o uso de uma pedra afiada. Graças a controles governamentais, a prática diminuiu nos últimos anos.
9 Bebês voadores. Todos os anos, na primeira semana de dezembro, no Estado de Karnataka, na Índia, acontece um ritual propiciatório particularmente terrificante. Os bebês nascidos no decorrer do ano são lançados do alto dos tetos dos templos, de alturas que superam os 30 metros. Embaixo, para acolhê-los, lençóis e colchas são segurados por parentes e amigos da criança. Segundo a tradição local, esse rito de passagem serve para trazer boa sorte e boa saúde aos recém-chegados. As autoridades indianas proibiram recentemente o rito devido à sua periculosidade, mas em muitas aldeias da região ele continua a ser praticado. O vídeo abaixo, particularmente inquietante, mostra como o rito dos “bebês voadores” acontece.
Vídeo: Bebês Voadores
10 Pelados sobre os touros. A cerimônia do salto sobre os touros é um rito de passagem da tribo Hamar, da Etiópia, ao final da qual considera-se que os jovens participantes entraram na idade adulta e podem formar um casal com a amada escolhida. Completamente nus, os meninos devem passar correndo e saltando sobre uma fila de touros colocados lado a lado. As moças, por seu lado, deixam-se açoitar por mulheres mais velhas.
11 Haja pancada. Rapazes da tribo nômade dos Fulani, na África ocidental (Mali e Níger), têm um rito de passagem muito doloroso para se tornar adultos: Eles lutam a golpes de chicotadas. Dois a dois, os rapazes se desafiam. Depois de escolher um bastão suficientemente robusto, o primeiro garoto investe contra o seu adversário e o golpeia o mais fortemente possível. A seguir, é a vez do seu adversário golpear, tomado pela mesma fúria. A multidão é quem decide quem é o vencedor, com base na força dos golpes e na resistência de quem os recebe.
12 Passeando com os mortos. Algumas populações do Madagascar, na África Oriental, costumam exumar periodicamente os corpos dos próprios mortos para mudar o sudário funerário que os envolve. Os cadáveres, antes de serem novamente sepultados, são levados em procissão durante dois dias seguidos, durante os quais os familiares dançam, bebem muito álcool e fazem a festa. Esse rito, chamado Famadihana, é repetido enquanto perdurar na tribo a memória do defunto.
13 Jantando com os mortos. Já os indígenas da tribo Toraja, uma população que vive nas montanhas da Indonésia, passam o ano inteiro com os próprios defuntos. No sentido literal da palavra. Depois de embalsamados com folmaldeído, os cadáveres permanecem na casa da família durante muitos anos. São simbolicamente nutridos, lavados e vestidos até que o processo de decomposição não esteja bem adiantado.
14 Sepultura no céu. Algumas populações do Tibete não enterram ou cremam os seus mortos. Os cadáveres são transportados para o alto de montanhas com a ajuda de bois iaques, em longas procissões capitaneadas por monges budistas. Lá no alto, os corpos são desmembrados e oferecidos aos abutres, considerados como reencarnações de anjos.
15 Creme de banana com vovó. Os Yanomamis, tribo que vive na Floresta Amazônica, não sepultam os próprios mortos. Eles os cremam e comem as suas cinzas misturadas a uma espécie de creme especial, feito à base de bananas amassadas. Na crença desses indígenas, esse ritual serve para liberar a alma do defunto e enviá-la ao mundo dos mortos. Foto: Odair Leal
16 As viúvas de dedos cortados. Não é fácil ser mulher entre os Dani, tribo que habita no interior da Papua e que ainda cultiva costumes antigos de mais de dez mil anos. Entre eles, quando as mulheres ficam viúvas ou perdem um parente próximo, devem passar por um rito impressionante: a amputação das falanges dos dedos das mãos. Isso acontece até mesmo quando elas são meninas. Hoje, a prática foi proibida pelas autoridades. Mas é comum se ver, nos povoados que ladeiam o Rio Baliem, mulheres com partes dos dedos amputados como a da foto. Os polegares, no entanto, nunca são cortados. Sem eles a mulher não conseguiria mais desempenhar nenhum trabalho, nem em casa nem no campo...
17 Ritos dos faquires. Enormes espadas trespassam as bochechas e os lábios desse jovem pertencente à comunidade chinesa de Phuket, na Tailândia. Mas ele não sangra e aparentemente não experimenta nenhuma dor: ele se encontra em estado de transe. É o momento culminante da Festa vegetariana, dedicado todos os outonos aos Nove Imperadores celestes. Com jejuns, sacrifícios, possessões e transes mediúnicos, essas divindades do panteão taoísta são invocadas durante nove dias seguidos para que tragam bênçãos e prosperidade. As pessoas, na ocasião, caminham sobre brasas ardentes ou sobre lâminas afiadas, sem demonstrar dor.
18. Drogados e enjaulados. Os garotos da tribo indígena Algonquim, no Canadá, eram levados para uma área separada do restante do povo, e eram enjaulados. Quando trancafiados, recebiam uma dose de uma substância chamada de wysoccan, altamente alucinógena e quase cem vezes mais forte que o LSD. A intenção do ritual era fazer com que os garotos esquecessem todas as suas lembranças da infância, para que pudessem se tornar homens. O problema do ritual é que a força da substância é tão grande que muitos garotos perdiam a memória da família e da própria identidade, e alguns até mesmo paravam de falar. Os garotos que mostravam que ainda lembravam coisas da sua infância eram levados para tomar o wysoccan novamente.
19. Festa da menina moça. Esta festa de iniciação é realizada pela tribo Tikuna, que vive na região norte da Amazônia. As garotas começam a participar da iniciação quando menstruam, e ficam durante 4 a 12 semanas em reclusão em um local construído na casa da família com este único propósito. Durante este período, acredita-se que a menina está no submundo, correndo perigo na presença de um demônio conhecido como Noo. Ao final do ritual, outras pessoas utilizam máscaras e se tornam reencarnações do demônio, e a garota fica durante dois dias com o corpo pintado de preto para se proteger do Noo. Na manhã do terceiro dia, ela pode sair da reclusão, e é levada por parentes para as festividades, em que dançam até o amanhecer. Neste momento, a garota recebe uma lança de fogo e deve jogá-la sobre o demônio. Depois disso, a tribo considera que a mulher pode entrar para a vida adulta com segurança.
ATIVIDADE PROPOSTA:
Depois de ter acesso a tantas informações interessante chegou a hora de produzir. Para finalizar a aula faça uma pesquisa sobre Ritos Mortuários nas diferentes religiões. A turma será dividida em equipes e cada uma pesquisará sobre uma religião:
ATIVIDADE PROPOSTA:
Depois de ter acesso a tantas informações interessante chegou a hora de produzir. Para finalizar a aula faça uma pesquisa sobre Ritos Mortuários nas diferentes religiões. A turma será dividida em equipes e cada uma pesquisará sobre uma religião:
- Islamismo,
- Budismo,
- Candomblé,
- Xamanismo e
- Cristianismo
2) Indicar quais são os Ritos Mortuários utilizados pela religião escolhida.
3) Descobrir quais são os símbolos e seus significados no ritual funerário da religião pesquisada.
4) Formular slides explicativos sobre o material pesquisado para apresentar aos colegas das outras equipes.
Sugestões de sites para pesquisa:
INSTITUTO Cultura Árabe.
PORTAL Dia a Dia Educação.
PROJETO Orientalismo. Um Buda para os romanos.
REVISTA Espaço Acadêmico.
MUNDO Estranho.
XAMANISMO.
INSTITUTO Cultura Árabe.
PORTAL Dia a Dia Educação.
PROJETO Orientalismo. Um Buda para os romanos.
REVISTA Espaço Acadêmico.
MUNDO Estranho.
XAMANISMO.
fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/195398/Ontem-menino-hoje-homem-Os-ritos-de-passagem-mais-estranhos-do-mundo.htm.