Ao longo de sua vida, o ser humano passa por diferentes etapas em seu desenvolvimento pessoal, afetivo, social e também no que diz respeito à prática de uma religião, sendo ela mais ou nem tanto institucionalizada. Mudar de uma etapa pode significar uma ruptura, a qual estabelece na vida do indivíduo um novo status, acarretando-lhe novos compromissos, outros conhecimentos e também responsabilidade.
Essa passagem de um estágio para o outro está presente em várias dimensões da vida em sociedade, e em muitos âmbitos ela é marcada por um ritual ou cerimônia, nem sempre religiosa, mas com toda certeza carregada de simbolismo que lhe agrega um valor quase religioso. Um exemplo muito forte na cultura brasileira é o tradicional baile de debutante, no qual a menina ao completar 15 anos oficializa a sua ruptura com a infância. Desde o nascimento até o seu último instante sobre a terra o ser humano está imerso em muitos ritos que o antropólogo francês, Arnold van Gennep (1873-1957) cunhou de ritos de passagem. Esses ritos se realizam de diversas formas e situações. Na linguagem religiosa, usa-se também a expressão ritos de iniciação, a fim de designar a inserção do fiel em certos compromissos ou tarefas da comunidade religiosa.
Em várias tradições religiosas, alguns desses ritos de passagem são realizados no próprio ambiente familiar, ou, quando celebrados no local de culto, envolvem, direta ou indiretamente, a participação da família, como no caso do batismo, realizado na Igreja Católica.
Há inúmeros ritos de passagem, e estes se diferem de uma tradição religiosa para outra. Entretanto, existem pelo menos três que estão presentes em quase todas as culturas e tradições religiosas, pois envolvem o nascimento, o casamento e a morte. Tais momentos dizem respeito não só ao ambiente familiar, mas também à sociedade, além da dimensão religiosa.
Cada rito possui a sua especificidade, mas, segundo Arnold Gennep, é possível identificar três fases comuns entre eles, tais como: separação, transição e reincorporação. Na primeira fase, a pessoa é retirada do seu estado atual e se prepara para assumir outro estado. Essa retirada exige ações simbólicas que representam o desprendimento do indivíduo ou grupo. A fase da transição é o período entre os estados, no qual a pessoa deixou o seu estado anterior, porém ainda não entrou ou assumiu o seguinte. Na terceira fase, que corresponde à reagregação ou reincorporação, o ritual está concluído e a passagem realizada, de modo que o indivíduo é reincorporado à comunidade sob um novo status.
A passagem para a vida adulta
Entre os ritos que marcam uma mudança na vida social e religiosa está o casamento. Nas culturas antigas, esta era uma cerimônia celebrada entre as famílias dos nubentes. Na antiga Grécia, quem escolhia a noiva era o pai de seu pretendente. A família da noiva pagava o dote e firmava-se o contrato diante de testemunhas. O rito que antecedia o casamento era composto por sacrifícios, cortejo até a casa do noivo, preces e libações em honra dos deuses Zeus e Hera, protetores do lar. Já na Roma antiga, o casamento era considerado uma das principais instituições, pois também servia para selar alianças políticas e econômicas. A estruturação legal do casamento, tal como chegou ao Ocidente dos tempos atuais, foi realizada ao longo do desenvolvimento da República romana. E é dessa tradição que elementos, tais como o anel de noivado e o véu da noiva, permanecem em algumas culturas. Nos dias atuais, esse rito de passagem apresenta um caráter de ostentação social que cerca a cerimônia, o local e a roupa do casamento.
A singularidade da celebração do casamento
O casamento, além do caráter civil, também tem seu aspecto religioso, como acontece em várias tradições religiosas, como o judaísmo, o islamismo, o xintoísmo, o cristianismo e o hinduísmo.
* Judaísmo – A celebração judaica é conduzida por um rabino e pode ocorrer em uma sinagoga ou em casa, mas sempre sob uma chupá, cobertura aberta com quatro polos, decorados com flores. O casal fica abaixo da chupá, simbolizando a sua unidade como uma nova família, com a abertura para a presença de Deus. O ketubá, contrato de casamento, é lido, e o noivo promete prover financeiramente sua futura esposa.
* Islamismo – A celebração pode variar dependendo da cultura e da região onde esta é celebrada. É a família do noivo que procura uma noiva adequada ao noivo. O casamento muçulmano é uma espécie de contrato entre o homem e o guardião ou pai da mulher. Este contrato implica o pagamento de um valor acordado pelas duas partes e pago pelo noivo quando o contrato é feito. Às muçulmanas não é permitido se casar com homens que não sejam muçulmanos, enquanto aos homens é permitido se casar com muçulmanas, cristãs e judias.
* Xintoísmo – O casamento é celebrado numa cerimônia solene, na presença de um sacerdote, que inclui oferendas, orações e promessas aos kami – deuses, seguindo-se um banquete. O noivo veste uma réplica dos quimonos formais usados pelos samurais no século 19. A noiva usa um quimono branco – cor do luto oriental – de seda, que simboliza o seu falecimento para sua família de origem, uma vez que ela passaria a integrar o clã de seu marido e demonstrar a pureza de seus sentimentos ao entrar para uma nova família.
* Hinduísmo – A aliança de casamento é feita depois que os pais do noivo consultam os mais velhos da família e os astrólogos indianos comparam horóscopos, castas, contexto familiar e social. Quando o acordo de casamento é selado, as duas famílias entram em uma relação mais profunda, de modo que, ao surgirem problemas na vida do novo casal, ambas as famílias se unem, para ajudá-lo a resolvê-los. Para o hinduísmo, o casamento é considerado uma união sagrada e imutável.
* Cristianismo – No universo cristão, as celebrações de casamento são variadas de acordo com a tradição cristã. Para a tradição católica romana, é considerado sacramento e indissolúvel. Quem celebra o casamento são os nubentes, e quem preside e abençoa os noivos é o ministro ordenado. No rito oriental bizantino, a celebração realiza-se com a coroação dos noivos pelo ministro do casamento que os abençoa. Nas Igrejas protestantes, o casamento não é considerado sacramento, porém tem igual valor religioso e civil.
ATIVIDADE PROPOSTA
Eixo temático: Ritos e celebrações
O texto “O rito de iniciação em família” faz menção a ritos de passagens religiosos e também sociais, o que denota que em diferentes etapas da vida o indivíduo passará por algum ritual.
– Propomos que se faça uma pesquisa acerca dos rituais que cercam o nascimento, o casamento e a morte nas tradições religiosas judaica, cristã e hindu ou outras que achar melhor. – Os pontos a serem considerados podem ser: local onde se realiza o ritual, número de orações, roupas próprias, relação de gênero (qual o papel específico de cada um) etc.
– Comparar as ações religiosas com as civis e evidenciar as proximidades entre as ações, bem como as diferenças (por exemplo: o nome dado à criança no registro civil e no batismo).
FONTE: https://www.paulinas.org.br/dialogo/?system=news&action=read&id=15209