segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Mundo do trabalho: Contexto e sentido

Resultado de imagem para crise no trabalhoA palavra trabalho deriva do latim tripalium, objeto de três paus aguçados utilizado na agricultura e também como instrumento de tortura. Mas ao trabalho associamos a transformação da natureza em produtos ou serviços, portanto em elementos de cultura.

O trabalho é, desse modo, o esforço realizado, e também a capacidade de reflexão, criação e coordenação. Ao longo da história, o trabalho assumiu múltiplas formas. Um importante pensador sobre esse assunto foi Karl Marx. Para esse autor, o trabalho, fruto da relação do homem com a natureza, e do homem com o próprio homem, é o que nos distingue dos animais e move a História. Mas o trabalho no mundo capitalista assumiu uma forma muito específica: o emprego assalariado. Como isso acontece? Quais as conseqüências desse modelo? 

Trabalho e salário 

Nas sociedades europeias, depois da Idade Média, a ideia do trabalho regular se impõe aos poucos. É o início do Capitalismo. Essa nova concepção vai além da atividade agrícola marcada pelos ciclos da natureza.

Resultado de imagem para crise no trabalhoÀ medida que se aprofundam as relações típicas da sociedade capitalista, ocorre a valorização do capital, com a transformação de insumos em produtos, em mercadorias e em lucros. Os donos do capital se apropriam dos meios de produção, o que significa que eles compram, com salários, a força de trabalho daqueles que passam a viver desse trabalho. As longas jornadas são definidas pelo capital e perdem a relação natural com o movimento da Terra, com as estações do ano ou clima.

O tempo pertence ao capital, que exige trabalho. As pequenas oficinas onde se produziam os artefatos vão perdendo espaço para o surgimento das fábricas. As guildas ou as corporações de ofício, que reuniam mestres e artesãos, começam a tomar a forma dos primeiros sindicatos.

Mas o que é essa novidade chamada “fábrica”? Fábrica é o lugar onde os trabalhadores eram reunidos para executar diferentes tarefas para produzir uma mercadoria. Das oficinas às fábricas chega-se à manufatura, e logo aos sistemas de máquinas, à automação, às grandes fábricas capazes de produzir algo complexo do seu início até a operação final sob o comando do capitalista, representado pelo capataz ou feitor.

É o longo processo da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVII Ao surgimento da fábrica, corresponde o aparecimento dos sindicatos em defesa dos interesses da classe trabalhadora e em busca pela justiça na produção capitalista.

Trabalho e emprego

Para que os trabalhadores vendessem seu trabalho em troca de salário, foi preciso destruir formas autônomas de sobrevivência, criar leis que obrigassem pessoas livres a trabalhar, reprimir todos aqueles vistos pela elite dominante como vagabundos e indignos.

Resultado de imagem para crise no trabalhoDesse modo, o trabalho no mundo capitalista ganhou cada vez mais a forma de emprego assalariado e sua ausência recebeu o nome de desemprego.
As palavras emprego e desemprego só passam a ter existência no vocabulário europeu a partir do final do século XIX.

Até então, aqueles que conseguiam prover a própria existência eram identificados como trabalhadores (no sentido genérico), ou como profissionais pertencentes a alguma “corporação” de ofício (com sua estrutura de mestres, oficiais e respectivos liceus de artes e ofícios). Já os que não alcançavam tal intento, necessitando de algum tipo de assistência ou perambulando pelas ruas em busca de alimento, eram rigorosamente identificados e tratados pelas leis da época como pobres, vagabundos, incapazes, inválidos ou vadios.

Pouco a pouco se separam dois grupos de pobres: de um lado, aqueles sem vínculos com o mundo do trabalho ou com vínculos esporádicos e intermitentes; ficavam à mercê da assistência social ou da caridade; de outro, os pobres trabalhadores regulares que podiam encontrar-se temporariamente sem trabalho. Identificados como desempregados, nesse caso, terão acesso aos direitos sociais – indenização, seguro-desemprego, assistência médica etc. – garantidos pelo Estado.

Produção e consumo 

Resultado de imagem para crise no trabalhoSe parte dos trabalhadores foi forçada a entrar na relação de trabalho assalariada, não foi sem resistência que os trabalhadores nela permaneceram. Assim, empresas e estados precisaram construir estratégias para controlar os trabalhadores e assegurar a produção e o consumo das mercadorias. De nada adiantaria produzir se não fosse possível vender, e nas primeiras décadas do século XX, constrói-se um modelo de organização do trabalho conhecido como taylorismo-fordismo.

Em primeiro lugar emerge o taylorismo: cada movimento do trabalhador será rigorosamente controlado por uma gerência que o vigia permanentemente. O fordismo acentua essas mudanças por meio da linha de montagem: a cada trabalhador caberia apenas uma tarefa, a ser executada em seu posto de trabalho, em um tempo determinado, por exemplo, enquanto a esteira rolante passa. Não sem razão, o movimento operário vai posicionar-se fortemente contrário a essa intensa disciplina.

O fordismo está associado a uma nova dinâmica do modo capitalista: produção em quantidade, custos baixos, grandes fábricas que produzem tudo. Começam os tempos da produção e do consumo em massa. Tal dinâmica predominará no século XX, particularmente entre a Segunda Guerra Mundial e meados dos anos 1970, nos países desenvolvidos.

Grande parte desses países viverá um período marcado pelo crescimento econômico: emprego e direitos sociais garantidos aos trabalhadores, aumentando a renda e o consumo nas diversas classes sociais.

Adolescentes e jovens pobres conseguem utilizar parte de sua renda para consumo próprio, contribuindo para a construção de mercado e cultura juvenis. Alguns fatores – ampliação da escolaridade obrigatória para oito anos e novos padrões de comportamento, incluindo menor autoridade e controle paternos, além de maior disponibilidade de renda para consumo – foram fundamentais para que a categoria juventude ganhasse força, expandindo-se para além dos jovens estudantes das classes média e alta, bem como dos considerados “delinquentes”.

Vários pesquisadores chamam atenção para o aparecimento dos grupos juvenis reunidos em torno da diversão e do consumo, com estilos próprios de vestuário e comportamento, e também para manifestações juvenis contrárias à própria sociedade de consumo.

Crise no Trabalho

Resultado de imagem para crise no trabalhoParte considerável das mudanças no mundo do trabalho toma corpo a partir da segunda metade dos anos 1960. Elas estão relacionadas com a crise financeira norte-americana do período; a relativa saturação do mercado consumidor nos países centrais; a elevação dos preços do petróleo nos anos 1970; as lutas operárias contra o trabalho repetitivo das fábricas; o sucesso crescente da indústria japonesa na competição internacional.

Ao aprofundar-se a crítica ao padrão taylorista-fordista, novos modelos ganham espaço: por um lado, os grupos semiautônomos adotados principalmente por fábricas suecas como a Volvo, daí o nome “volvoísmo”, por outro, o modelo da indústria japonesa, particularmente nas fábricas da Toyota (“modelo japonês” e “toyotismo”): equipes flexíveis e polivalentes.

Para quem está inserido no mundo do trabalho, algo mudou: a rotina das fábricas não é tão rígida; a chefia por vezes deixa a opressão ostensiva; o trabalho daqueles que lidam com a produção industrial é menos mecânico; o objeto e a ferramenta distanciam-se das mãos do trabalhador, que lida agora com o monitoramento de símbolos e mensagens dos sistemas computadorizados; a disputa é mais intensa, a qualificação profissional surge como uma exigência maior e a educação formal transforma-se em critério de seleção. O Brasil revela, no entanto, que essas mudanças não são uniformes. Hoje, convivemos com um trabalho que se aproxima da escravidão, e trabalho extremamente qualificado, entre os tempos de suor e graxa e uma nova “era do conhecimento” que não chegou aos quatro cantos do planeta.

O emprego estável, o vínculo duradouro, a carreira realizada em um percurso de um ou de poucos empregos, parece inexistir para a maior parte da população. A identidade com o empregador e com a própria profissão parecem situações de uma época que já se foi. O desemprego atinge patamares elevadíssimos em todo o mundo, que parecem não ceder.

As diferentes situações convivem conjuntamente, ou seja, uma minoria com emprego estável e direitos garantidos, muitos desempregados e outros que vão em busca de alternativas. O trabalho passa a ser criação própria para alguns (auto-emprego, cooperativas), ou retoma sua condição de “fora-da-lei”, com oficinas clandestinas, profusão de produtos denominados “piratas”, ou imensa rede de atividades ilegais como opção de acesso a alguma renda. É a paradoxal economia “informal” que movimenta cifras grandiosas, ocupa milhões de trabalhadores expulsos da agricultura e da indústria.

Como é possível falar de trabalho assalariado no país em que a escravidão foi a forma de trabalho dominante até o final do século XIX? A rigor, no Brasil, a relação assalariada não se generaliza como nos países centrais. O período pós-abolição da escravidão é marcado pela política de ampla imigração de trabalhadores que fugiam da crise em seus países de origem: italianos, espanhóis, japoneses, alemães e tantos outros, para o labor das fazendas, incipientes oficinas e fábricas, ou ainda para os serviços na cidade.

Com os imigrantes surgem as primeiras sociedades de socorro mútuo de trabalhadores, os primeiros sindicatos e confederações, as primeiras greves gerais, de 1907 e 1917. A crise social que se desenrola ao longo das três primeiras décadas do século XX é decorrente de diferentes modelos econômicos pretendidos, a vocação agrícola contra o sonho industrial.

Desenvolvimento da indústria no Brasil


A chegada de Getúlio Vargas ao poder executivo significa uma ruptura com o período precedente: apesar das condições de tutela impostas à organização sindical, entre as décadas de 1930 e 1940, contraditoriamente, o país passa a contar com uma legislação trabalhista – parte dela ainda hoje em vigor na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Começava a era do emprego formal, da carteira de trabalho assinada e da previdência social, incorporando massas de trabalhadores integradas ao processo de industrialização, que ganha impulso após a Segunda Guerra Mundial. Dos anos 1940 aos anos 1980, o Brasil cresce intensamente, e as migrações, agora internas, suprem a necessidade de trabalhadores de uma indústria que não pára de se expandir.

É o momento das grandes siderúrgicas, da indústria automobilística, da petroquímica e dos mais diversos setores produtivos que substituem a incipiente base fabril do início do século XX (produtos têxteis ou bens de consumo).

Distribuição de renda e crise

Resultado de imagem para crise no trabalhoO perfil e a trajetória histórica da distribuição de renda no Brasil certamente limitam a capacidade de consumo, e, por conseguinte, a aquisição de bens e serviços pelo cidadão comum. Embora apresente uma das maiores populações do planeta, a renda vergonhosamente concentrada é uma imensa barreira ao crescimento econômico, por causa da reduzida demanda familiar.

Se o trabalho caracterizado pelo emprego formal era fonte de direitos e caminho seguro de acesso à renda e, portanto, ao consumo, os “bicos” ou o não-trabalho associados ao desemprego são portas fechadas nesse caminho. No final do século XX, despreparado, o país abre as portas e é inundado pelas importações.

Somem-se a isso a crise fiscal do Estado, incapaz de sustentar investimentos com a subtração dos juros da dívida, e a reestruturação das empresas em busca de novas condições para competir. O resultado é o desaparecimento de milhões de empregos na economia brasileira, especialmente na indústria. A sensação predominante é de insegurança. A carteira de trabalho assinada passa a ser um sonho, objeto de desejo e de veneração.

Agora, é o chamado mercado informal que dá as cartas, um trabalho incerto e inseguro, literalmente temporário. Não é ainda o fim dos empregos, mas é o tempo do desemprego como epidemia social e econômica. Esse desemprego não atinge igualmente a todos os indivíduos. Ele toca, principalmente, as mulheres, os afrodescendentes, os jovens.

Ao longo dos anos 1990, os jovens passam a encontrar cada vez mais dificuldades para ingressar e permanecer no mercado de trabalho: houve diminuição do número de jovens ocupados e da sua participação na população ocupada. Para além dos números, o desemprego juvenil provoca outros debates.

Algumas pesquisas tornam evidente que o trabalho dos jovens (sobretudo das mulheres) é fundamental para a construção da autonomia e da condição juvenil; a possibilidade de consumo é um meio de construção das identidades. Mas nos tempos bicudos do desemprego começa-se a questionar se os jovens não deveriam apenas estudar. Mas muitos jovens, mesmo os mais pobres, começam a reclamar pelo direito à escolha, pelo direito à educação e também ao trabalho.

Texto original: Maria Carla Corrochano e Luis Paulo Bresciani.

    ATIVIDADE PROPOSTA: 



ATIVIDADE EXTRA:

O nível de desemprego em diversos países tem levado à discussão a redução da jornada de trabalho (RJT) sem alteração de salários. A mobilização sindical acredita que a medida será capaz de preservar e criar empregos. No Brasil, existe uma realidade de extremos. Enquanto muitos estão desempregados, tantos outros enfrentam exaustivas jornadas de trabalho.

A redução poderia alavancar a economia levando à melhoria do mercado de trabalho, possibilitando, além de novas vagas, diminuição do desemprego, da informalidade, aumento da massa salarial e rendimento e, consequentemente, o crescimento do consumo. Este, por sua vez, levaria ao aumento da produção, o que completaria o círculo virtuoso.

Antes da existência da legislação trabalhista os empregados eram explorados, os salários eram muito baixos e as jornadas de trabalho muito longas. No entanto, à medida que a classe trabalhadora se organizou e conquistou avanços nas condições de trabalho, os trabalhadores passaram a ter suas conquistas garantidas por leis que limitam a jornada.

A proposta de Redações é com o tema no qual exponha suas ideais e opiniões sobre "A redução da jornada de trabalho pode gerar demissões?"

fonte: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/09_cd_al.pdf

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